Banda Desenhada & Ilustração
Que distinção podemos fazer entre uma coisa e a outra?
Partimos dos dois "elementos" existentes nos dois modos de expressão a que damos o nome de banda desenhada e ilustração: texto e imagem.
Temos o estabelecimento de uma relação entre um e outra em ambas as artes.
A diferença não pode ser simplesmente explicada pelo facto de num caso existirem várias imagens (vinhetas, quadradinhos) e na outra apenas uma imagem. Não se pode fazer isso porque logo surgem exemplos contrários: bandas desenhadas cujas páginas apresentam apenas uma imagem, ilustrações nas quais se intercalam várias imagens.
A inclusão de mais ou menos texto também não me parece um bom caminho, pois há ilustração com muito pouco texto e bandas desenhadas "esmagadas" por muito texto.
O facto do texto ter um espaço que lhe é próprio na página, enquanto mancha gráfica, na ilustração e de estar integrado no mesmo espaço que a imagem na banda desenhada é ainda uma outra opção que é imediatamente desmentida por exemplos contrários.
Voltemos então, não a explicações que têm a ver com a "superfície" das coisas, mas com a "profundidade". Tal como podemos comparar pessoas por aspecto físico mas nada disso nos diz dos laços que as unem (amizade, familiaridade, paixão, estranheza, etc.), também temos de olhar para a relação que une os tais elementos: o texto e a imagem. E ainda ter em conta que poderemos ter textos (palavras) que são texto, como o exemplo da caligrafia figurativa islâmica, representando um pássaro, que abre este post, ou esta banda desenhada ao lado, de Luciano Félix, em que os balões em vez de texto têm sinais de trânsito (imagens) para transmitir ideias, conceitos e informação - ainda que em geral. Mais, sem entrar em complicações maiores de ver qualquer texto enquanto imagem (pois é apresentada como tal e pode assumir os mesmos valores plásticos de uma imagem) ou a imagem enquanto texto (num sentido semiótico, em que texto significa "aquilo que interpretamos").
Muitas vezes as pessoas dizem, banalmente, "uma imagem vale mais que mil palavras". Também poderiam dizer o contrário que continuavam a não dizer nada. E isto porque as palavras não são traduzíveis de modo imediato por imagens (é tão difícil com conceitos abstractos como "amizade" como com a preposição "a"), e qualquer imagem poderá conter vários modos possíveis de descrição, o que implicaria de imediato mais que uma palavra. O problema está em que se acredita que, no fundo, seria possível algum grau de tradução ou de transposição de um campo ao outro. Não é, porque os elementos estruturais de uma imagem são diferentes dos de uma palavra: ambos passam pelos olhos-ligados-ao-cérebro, e ambos passam pela inteligência e o entendimento, mas enquanto a primeira "nos fala" de um modo em que comparamos o que vemos com a realidade, mesmo com todas as diferenças, à segunda comparamos com uma base de dados mais limitada, fechada e onde verificamos se respeita as regras.
A relação é antes de complementaridade e de concorrência (isto é, que "corre junto a"). Como diz Michel Melot, autor de um livro sobre ilustração (apesar das ausências, o livro mais compreensivo que conheço em termos históricos, num só volume), "a imagem não é já o apêndice, o ornamento ou a redundância do texto. É uma técnica diferente de apreensão do conhecimento". Podemos ver também a banda desenhada da mesma maneira. Tal como o cinema, o teatro, a literatura, etc., as artes em geral nos apresentam o mundo do seu modo específico (através de imagens em movimento, imagens estáticas, personagens em acção, palavras, sons, etc.), também estas duas áreas nos fazem avançar numa compreensão e valorização do mundo.
Mas a relação de complementaridade e de concorrência é algo diferente na banda desenhada e na ilustração.
Em relação à concorrência, digamos que a diferença é sobretudo de distribuição espacial, ainda que possam existir outros factores. Na ilustração, é relativamente simples indicarmos o espaço que está reservado ao texto e o que está reservado à imagem. Mesmo que esta seja uma acção puramente mental, é como se de facto utilizássemos o dedo indicador, apontando para aqui e para ali, para isto e para aquilo, indicando assim se se trata de uma ou de outra coisa. O caso aqui exemplificado é muito claro (trata-se de The Rats of Rutland Grange de Edmund Wilson, com ilustrações de Edward Gorey, um conto publicado na revista Esquire, em 1961). Na banda desenhada, seja a que utilize um grande número de vinhetas por prancha e estruturas complexas, seja a que recorre a apenas uma imagem por prancha ou estruturas simples, a relação espacial entre o texto e a imagem é de encaixe, de absoluta osmose num mesmo plano, e é um acto de violência destruidora tentar discernir ambos.
Quanto à complementaridade, tem a ver com os graus de independência que existem entre um elemento e outro. Se podemos apontar para espaços diferenciados entre a imagem e o texto, como na ilustração, é porque poderemos fazer uma operação mental também: a de os separar. Que quer isto dizer? A de que poderemos re-apresentar os textos por si só, ou as imagens por si só, sem com isso perder o valor intrínseco ora do texto ora da imagem. Imaginem que numa publicação existiam crónicas sobre certas personalidades, crónicas escritas pelo autor x e que tinham uns retratos caricaturais pelo artista y. Pela razão adiantada, teremos a edição separada em formato de livro das crónicas de x e a das caricaturas de y, sem ser muito problemático apenas termos, nos livros separadamente, acesso a apenas um do material que havia surgido em conjunto. Isto ocorre em casos simples, como o das ilustrações editorais (jornais, revistas, etc.), como em casos mais complexos (como o que aqui temos, do livro Bagazh, publicado na Rússia em 1934, fruto da colaboração íntima do escritor Samuel I. Marshak e do artista Vladimir V. Lebedev), como noutros exemplos mais famosos (por exemplo, as edições dos romances de Júlio Verne ou de Charles Dickens não contêm as ilustrações com que surgiram originalmente, e existem muitas edições das gravuras de Gustave Doré sem os textos para os quais ele as criou - se bem que deva ser dito que a esmagadora maioria dessas ilustrações é bem posterior aos mesmos textos). Quer dizer, na ilustração, por mais bela e conseguida que seja a complementaridade, a imagem e o texto existem sempre com algum grau de independência.
Já na banda desenhada, uma está inextricavelmente implicada na outra: é impossível fazer qualquer alteração ou re-apresentação dos elementos "puros" sem com isso destruir a existência da banda desenhada. Se eu apresentar uma ilustração de Lebedev sem o texto de Marshak, é ainda uma ilustração de Lebedev (o mesmo se passaria com um trabalho em que o trabalho de escrita e do desenho pertencesse à mesma pessoa, como com William Blake ou Jean de Brunhof). Se eu apresentar uma vinheta de Edgar P. Jacobs (como uma desta prancha de O Segredo do Espadão, começado em 1946) sem o seu texto, e fora da estrutura da prancha, já não é uma vinheta das Aventuras de Blake & Mortimer, e passa a ser um desenho (ou uma ilustração, se preferirem) de Jacobs (o mesmo se passaria com um trabalho em que o trabalho fosse repartido, como entre Goscinny e Uderzo - dos famosos Astérix e Obélix - ou entre o artista Edmond Baudoin e a escritora Fred Vargas em Les Quatre Fleuves). Podemos ter livros com vinhetas e desenhos separados, sem dúvida - A Arte de Hugo Pratt, por exemplo. Mas deixamos de estar a olhar vinhetas de um "texto" de banda desenhada, e passamos a ver apenas desenhos, ilustrações, elementos visuais, etc. Já não está organizado como uma banda desenhada.
Existem casos de charneira, de implicação, ou melhor, complicação, da imagem e do texto (como este que se apresenta, da colaboração entre o poeta Aliagrov Kruchenykh (pseudónimo de Roman Jakobson) e a artista Olga Rozanova, um livro russo de 1915, intitulado Transrationel); mas fiquemo-nos pelos casos mais generalizados, pois é esses que ajudam a consolidar a imagem central que existe. São casos que estarão na fronteira fictícia destes dois campos, e que ora poderão participar em ambos os campos, ou de uma forma tão diversa que não sabemos onde os colocar.
De uma forma geral, poderemos dizer que enquanto na ilustração há uma convivência entre a imagem e o texto - e que pode ser feliz ou não, completa ou não, etc. - na banda desenhada há uma impregnação de uma com o outro construindo um novo modo de fazer - o qual também poderá atingir um maior ou menor nível de qualidade. Na primeira mantem-se uma junção de dois elementos independentes, na segunda atingimos uma "moult belle conjointure"...
Nada disto nos ajuda a dizer se, quer no caso da ilustração quer no da banda desenhada, o texto vem antes da imagem ou se esta é mais importante que o texto. Pois não, não ajuda. E não faz mal, porque não é isso a que pretendemos responder. O que vem primeiro ou que vem depois diz respeito ao exemplos concretos e terá a ver com a produção (o que existe antes da obra), e só pode ser interrogado caso a caso. No caso dos jornais, usualmente existe um texto antes, um tema, que o ilustrador procurará suplementar ou re-apresentar com uma imagem; no caso do primeiro romance de Dickens, The Pickwick Papers, este começou a ser escrito para acompanhar as ilustrações que já existiam, do artista Robert Seymour. A série The Sandman, escrita por Neil Gaiman, foi mais seguida pelos amantes da "estória" do que pela arte dos variadíssimos artistas que por lá passaram; e muitos fãs continuam a seguir as histórias de Moebius ou Enki Bilal, independentemente da escrita já se ter esgotado há muito.
Quanto à importância, isso já dirá respeito a um juízo de valor, que terá de ser defendido por quem o faz, também caso a caso, e terá a ver com a recepção (o que existe depois da obra). Apenas como exemplo, mais ou menos discutível, poderemos dizer que por mais belas que sejam as ilustrações feitas para a Divina Comédia de Dante (Botticelli, Doré, Blake, Dali, Rauschenberg, são os casos mais famosos), a importância deste texto para a nossa cultura (actual, ocidental) ultrapassa-as sobremaneira; por outro lado, para além dos historiadores, quem é que hoje se preocupa em procurar os textos que acompanhavam as gravuras de William Hogarth, ou a procurar entender todos os pormenores políticos e culturais das caricaturas de Bordalo Pinheiro?
Não me interessa particularmente dizer se um modo é superior ao outro, o que, além de tremendo disparate, não nos ajuda a compreender nem um nem outro. Simplesmente ir procurando o que podemos dizer da ilustração e da banda desenhada e acreditar que haverá muitos pontos em comum, ou conclusões de um campo que ajudarão às investigações no outro.
Partimos dos dois "elementos" existentes nos dois modos de expressão a que damos o nome de banda desenhada e ilustração: texto e imagem.
Temos o estabelecimento de uma relação entre um e outra em ambas as artes.
A diferença não pode ser simplesmente explicada pelo facto de num caso existirem várias imagens (vinhetas, quadradinhos) e na outra apenas uma imagem. Não se pode fazer isso porque logo surgem exemplos contrários: bandas desenhadas cujas páginas apresentam apenas uma imagem, ilustrações nas quais se intercalam várias imagens.
A inclusão de mais ou menos texto também não me parece um bom caminho, pois há ilustração com muito pouco texto e bandas desenhadas "esmagadas" por muito texto.
O facto do texto ter um espaço que lhe é próprio na página, enquanto mancha gráfica, na ilustração e de estar integrado no mesmo espaço que a imagem na banda desenhada é ainda uma outra opção que é imediatamente desmentida por exemplos contrários.
Voltemos então, não a explicações que têm a ver com a "superfície" das coisas, mas com a "profundidade". Tal como podemos comparar pessoas por aspecto físico mas nada disso nos diz dos laços que as unem (amizade, familiaridade, paixão, estranheza, etc.), também temos de olhar para a relação que une os tais elementos: o texto e a imagem. E ainda ter em conta que poderemos ter textos (palavras) que são texto, como o exemplo da caligrafia figurativa islâmica, representando um pássaro, que abre este post, ou esta banda desenhada ao lado, de Luciano Félix, em que os balões em vez de texto têm sinais de trânsito (imagens) para transmitir ideias, conceitos e informação - ainda que em geral. Mais, sem entrar em complicações maiores de ver qualquer texto enquanto imagem (pois é apresentada como tal e pode assumir os mesmos valores plásticos de uma imagem) ou a imagem enquanto texto (num sentido semiótico, em que texto significa "aquilo que interpretamos").
Muitas vezes as pessoas dizem, banalmente, "uma imagem vale mais que mil palavras". Também poderiam dizer o contrário que continuavam a não dizer nada. E isto porque as palavras não são traduzíveis de modo imediato por imagens (é tão difícil com conceitos abstractos como "amizade" como com a preposição "a"), e qualquer imagem poderá conter vários modos possíveis de descrição, o que implicaria de imediato mais que uma palavra. O problema está em que se acredita que, no fundo, seria possível algum grau de tradução ou de transposição de um campo ao outro. Não é, porque os elementos estruturais de uma imagem são diferentes dos de uma palavra: ambos passam pelos olhos-ligados-ao-cérebro, e ambos passam pela inteligência e o entendimento, mas enquanto a primeira "nos fala" de um modo em que comparamos o que vemos com a realidade, mesmo com todas as diferenças, à segunda comparamos com uma base de dados mais limitada, fechada e onde verificamos se respeita as regras.
A relação é antes de complementaridade e de concorrência (isto é, que "corre junto a"). Como diz Michel Melot, autor de um livro sobre ilustração (apesar das ausências, o livro mais compreensivo que conheço em termos históricos, num só volume), "a imagem não é já o apêndice, o ornamento ou a redundância do texto. É uma técnica diferente de apreensão do conhecimento". Podemos ver também a banda desenhada da mesma maneira. Tal como o cinema, o teatro, a literatura, etc., as artes em geral nos apresentam o mundo do seu modo específico (através de imagens em movimento, imagens estáticas, personagens em acção, palavras, sons, etc.), também estas duas áreas nos fazem avançar numa compreensão e valorização do mundo.
Mas a relação de complementaridade e de concorrência é algo diferente na banda desenhada e na ilustração.
Em relação à concorrência, digamos que a diferença é sobretudo de distribuição espacial, ainda que possam existir outros factores. Na ilustração, é relativamente simples indicarmos o espaço que está reservado ao texto e o que está reservado à imagem. Mesmo que esta seja uma acção puramente mental, é como se de facto utilizássemos o dedo indicador, apontando para aqui e para ali, para isto e para aquilo, indicando assim se se trata de uma ou de outra coisa. O caso aqui exemplificado é muito claro (trata-se de The Rats of Rutland Grange de Edmund Wilson, com ilustrações de Edward Gorey, um conto publicado na revista Esquire, em 1961). Na banda desenhada, seja a que utilize um grande número de vinhetas por prancha e estruturas complexas, seja a que recorre a apenas uma imagem por prancha ou estruturas simples, a relação espacial entre o texto e a imagem é de encaixe, de absoluta osmose num mesmo plano, e é um acto de violência destruidora tentar discernir ambos.
Quanto à complementaridade, tem a ver com os graus de independência que existem entre um elemento e outro. Se podemos apontar para espaços diferenciados entre a imagem e o texto, como na ilustração, é porque poderemos fazer uma operação mental também: a de os separar. Que quer isto dizer? A de que poderemos re-apresentar os textos por si só, ou as imagens por si só, sem com isso perder o valor intrínseco ora do texto ora da imagem. Imaginem que numa publicação existiam crónicas sobre certas personalidades, crónicas escritas pelo autor x e que tinham uns retratos caricaturais pelo artista y. Pela razão adiantada, teremos a edição separada em formato de livro das crónicas de x e a das caricaturas de y, sem ser muito problemático apenas termos, nos livros separadamente, acesso a apenas um do material que havia surgido em conjunto. Isto ocorre em casos simples, como o das ilustrações editorais (jornais, revistas, etc.), como em casos mais complexos (como o que aqui temos, do livro Bagazh, publicado na Rússia em 1934, fruto da colaboração íntima do escritor Samuel I. Marshak e do artista Vladimir V. Lebedev), como noutros exemplos mais famosos (por exemplo, as edições dos romances de Júlio Verne ou de Charles Dickens não contêm as ilustrações com que surgiram originalmente, e existem muitas edições das gravuras de Gustave Doré sem os textos para os quais ele as criou - se bem que deva ser dito que a esmagadora maioria dessas ilustrações é bem posterior aos mesmos textos). Quer dizer, na ilustração, por mais bela e conseguida que seja a complementaridade, a imagem e o texto existem sempre com algum grau de independência.
Já na banda desenhada, uma está inextricavelmente implicada na outra: é impossível fazer qualquer alteração ou re-apresentação dos elementos "puros" sem com isso destruir a existência da banda desenhada. Se eu apresentar uma ilustração de Lebedev sem o texto de Marshak, é ainda uma ilustração de Lebedev (o mesmo se passaria com um trabalho em que o trabalho de escrita e do desenho pertencesse à mesma pessoa, como com William Blake ou Jean de Brunhof). Se eu apresentar uma vinheta de Edgar P. Jacobs (como uma desta prancha de O Segredo do Espadão, começado em 1946) sem o seu texto, e fora da estrutura da prancha, já não é uma vinheta das Aventuras de Blake & Mortimer, e passa a ser um desenho (ou uma ilustração, se preferirem) de Jacobs (o mesmo se passaria com um trabalho em que o trabalho fosse repartido, como entre Goscinny e Uderzo - dos famosos Astérix e Obélix - ou entre o artista Edmond Baudoin e a escritora Fred Vargas em Les Quatre Fleuves). Podemos ter livros com vinhetas e desenhos separados, sem dúvida - A Arte de Hugo Pratt, por exemplo. Mas deixamos de estar a olhar vinhetas de um "texto" de banda desenhada, e passamos a ver apenas desenhos, ilustrações, elementos visuais, etc. Já não está organizado como uma banda desenhada.
Existem casos de charneira, de implicação, ou melhor, complicação, da imagem e do texto (como este que se apresenta, da colaboração entre o poeta Aliagrov Kruchenykh (pseudónimo de Roman Jakobson) e a artista Olga Rozanova, um livro russo de 1915, intitulado Transrationel); mas fiquemo-nos pelos casos mais generalizados, pois é esses que ajudam a consolidar a imagem central que existe. São casos que estarão na fronteira fictícia destes dois campos, e que ora poderão participar em ambos os campos, ou de uma forma tão diversa que não sabemos onde os colocar.
De uma forma geral, poderemos dizer que enquanto na ilustração há uma convivência entre a imagem e o texto - e que pode ser feliz ou não, completa ou não, etc. - na banda desenhada há uma impregnação de uma com o outro construindo um novo modo de fazer - o qual também poderá atingir um maior ou menor nível de qualidade. Na primeira mantem-se uma junção de dois elementos independentes, na segunda atingimos uma "moult belle conjointure"...
Nada disto nos ajuda a dizer se, quer no caso da ilustração quer no da banda desenhada, o texto vem antes da imagem ou se esta é mais importante que o texto. Pois não, não ajuda. E não faz mal, porque não é isso a que pretendemos responder. O que vem primeiro ou que vem depois diz respeito ao exemplos concretos e terá a ver com a produção (o que existe antes da obra), e só pode ser interrogado caso a caso. No caso dos jornais, usualmente existe um texto antes, um tema, que o ilustrador procurará suplementar ou re-apresentar com uma imagem; no caso do primeiro romance de Dickens, The Pickwick Papers, este começou a ser escrito para acompanhar as ilustrações que já existiam, do artista Robert Seymour. A série The Sandman, escrita por Neil Gaiman, foi mais seguida pelos amantes da "estória" do que pela arte dos variadíssimos artistas que por lá passaram; e muitos fãs continuam a seguir as histórias de Moebius ou Enki Bilal, independentemente da escrita já se ter esgotado há muito.
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10 Comments:
intiresno muito, obrigado
Um ilustrador sempre se basa em imagens, e hoje em dia tem muitos trabalhos na área digital.
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